sábado, 5 de janeiro de 2008

Neo-escravidão




A título de introdução, cabe salientar que nós vivemos numa constante mudança, o mundo a vive. Ele gira, as pessoas andam, comem, bebem, interagem e tantos outros incontáveis verbos. Com os idiomas não é diferente à exceção, óbvio, das línguas consideradas mortas, nomeadamente o latim.

No caso particular dos idiomas, mas especificamente das linguagens é que quero chegar. O fato de se dar nomes novos a objetos já existentes que não mudaram em sua essência chama-se neologismo. É dele que vim falar nesse título.

Ao estudar história percebemos o quanto os nomes são importantes ao localizar eventos destacáveis da humanidade. As eras mudaram de nome de acordo com as principais descobertas que envolveram como o neolítico é a idade da nova pedra ou popularmente da pedra polida. A partir de determinado momento, onde a economia já existia mesmo que de forma primitiva, ela já mostrava sua soberania sobre a espécie humana sendo então a representação de uma idade, de um grupo de anos que se concentrou em torno de um tipo econômico. O feudalismo deve ser um dos principais exemplos. Não sei bem porque estou escrevendo tudo isso, mas quando terminar talvez faça sentido.

O fato é que o modo econômico sempre foi destaque no estudo e na representação de uma época, mesmo no tempo em que o poder era concentrado no clero. Pois bem, voltando ao neologismo. Gosto de falar dele porque ele é uma nova forma de se dizer o que já tem outro nome, o que pode porventura mascarar o antigo fato e com isso chego finalmente ao ponto. Vivemos todos os dias centenas de coisas que não entendemos, pagávamos contribuições provisórias e continuamos a pagar vários impostos. “Nossos” empregos (porque será que chamamos de nossos se não temos nenhum direito sobre ele?), “nossos” telefones(também não podemos alienar esse bem, deixa de pagar pra você ver o que é seu!), nossas cidades, casas, ruas. Nos empregos os chefes aplicam belíssimos programas de “qualidade de vida” então ficamos todos felizes. A maioria dos estagiários que conheço gosta de ser efetivados por que ai podem fazer hora extra!

Dentre essas e várias outras que já não dá pra citar gostaria de destacar uma, que por acaso criei hoje, a NEO-ESCRAVIDÃO, na verdade acho que não tem hífen, mas fica mais bonito assim. É um nome forte por terminar com “ão”. A neo-escravidão é uma coisa que o capitalismo importou na maior cara-de-pau do sistema de servidão coletiva, do modo de produção asiático ou simplesmente da antiga escravidão. Basta olhar a nossa volta, somos cercados de coisas que nos alimentam para o MERCADO. O mundo é praticamente todo feito para atender as malditas demandas do mercado. Sim, não pense que a faculdade de medicina existe porque precisamos ter saúde, mas sim porque dá dinheiro e o mercado adora isso, dar dinheiro para que se gaste mais, para que ele gire e cresça! O governo existe, sobretudo no Brasil para dar poder a quem tem dinheiro e excluir quem não tem! Onde está os direitos da CF?? Não existem porque não dão dinheiro! Quer saber pra que existe bolsas em todos os lados? Porque esses que recebem não conseguem obter renda e quem não tem renda não compra, não ajuda o mercado a crescer. O fato é que há sociedades que hoje precisam de dinheiro para ascender socialmente e felizmente esse não é o problema do Brasil. Pode-se alegar que o povo com dinheiro compra mais, então aumenta a demanda por produtos e causa ou incentiva o crescimento da indústria, não posso negar que os desempregados ganharam com o novo emprego, mas quem é que realmente ganha com isso?

Isso pra mim é a neo-escravidão, somos escravos do mercado, do dinheiro e do tempo. Vivemos pela produtividade e pelo crescimento econômico do país. Pensamos em ser empresários e lucrar muito nas costas de pobres escravos que trabalham até morrer pra ganhar muito menos do que merecem e depois ser demitido em troca de outros mais novos e mais baratos. Assim está o mundo e para que ninguém peça pinico ou fique desacreditado na vida, vai uma mensagem de um sábio educador, Paulo Freire:

“Insisto, com a força que tenho e que posso juntar na minha veemente recusa a determinismos que reduzam a nossa presença na realidade histórico-social à pura adaptação à ela”

2 comentários:

Rafaela Melo disse...

Hoje não estou nos melhores dias para fazer comentários...
Já pensei em um molde coisas a dizer, e percebi que nenhuma delas estava coerente o suficiente (isso ficou parecendo eco ¬¬) para se tornar comentário. Assim como não acho que esse esteja.
Vou então apenas parabenizar meu amigo Diego, por mais um ótimo texto. Acho muito interessante a maneira como você consegue ligar os fatos no seu texto. De uma coisa que a gente acha que não tem nada a ver com o assunto você vai chegando àquilo que de fato interessa. Parabéns mais uma vez e que da próxima vez o meu comentário possa ser à altura do seu texto, se é que isso é possível.

Diego Mello disse...

Rafinha, sempre modesta...
nem eu mesmo vejo essas coisas que você vê no texto e depois dos posts em sua homenagem vou aceitar seus comentários como agradecimento pelo prazo de um mês! Ou seja, não terão tanta validade antes do fim desse prazo :p

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