quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sobre a sociedade dos poetas mortos


 


 

Esta noite, escrevo inspirado pelo filme Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society). Um filme magnífico que realmente me emocionou.

O filme conta a história de um grupo de estudantes de um tradicional curso preparatório para universidades nos Estados Unidos. Os alunos, os melhores possíveis. Passivos, absorvem o conhecimento alheio com uma velocidade estonteante, até que um prof. "ó, captain" Mr. Keating inicia suas aulas nessa escola. Suas aulas eram deveras peculiares, seu método de ensino inovador. Vi nele um precursor freireano. Ele fez com que seus alunos vivesse as situações de aprendizado ao invés de apenas ouvir. O trabalho de curiosidade estava presente em todo o filme e a esperança não foi diferente. Um dos alunos se rebela, adota um codinome e como um mártir, é espancado no traseiro pelo diretor da escola que o fazia a fim de obter uma confissão, pura ilusão. O aluno Dalton não confessou sequer um detalhe, uma migalha. A sociedade dos poetas mortos prosseguia a exemplo de sua primeira formação incluindo o Robie Williams (Mr. Keating). Ele inaugurou na escola a liberdade de pensamento, a opção de ver o mundo diferentemente e de fazer suas próprias escolhas. Mais do que isso, fez da poesia um instrumento de desenvolvimento humano. Os alunos passaram a ser poetas e com isso a viver sua própria vida.

O ápice da opressão se dá assustadoramente antes de sua maior queda, quando o aluno, impedido pelos pais de fazer o que lhe era bom, suicidou. Conversando com um amigo, que prometeu escrever para nós em breve, percebi que o sacrifício foi em nome da liberdade. O ator por excelência e estudante por opressão paterna, Neil, se percebeu vivendo a vida que seus pais queriam, isso o colocou num grande conflito existencial. Em verdade, aceitando as ordens dos pais, deixara de haver personalidade, havia apenas um ser que recebia ordens como uma máquina qualquer, que não pensa nem reage. Só aceita e cumpre ordens. Refletindo sobre sua existência e percebendo sua ausência, resolver por em prática o que já havia na teoria. "Cogito ergo sum", se não penso, não existo. Se não existo, tanto faz morrer... mas não é bem assim.

Uma reflexão maior sobre o filme me faz pensar por que motivo ainda estou estudando na faculdade, por que ainda faço um ou outro curso. Por que penso e me comporto dessa maneira. Por que fui compelido a fazer isso? Então tenho escolha? Na minha vida, decidi terminar a faculdade de qualquer maneira, fazer um concurso e então, após adquirir certa estabilidade financeira poder me entregar profundamente aos meus objetivos pessoais extra-economicos. Obviamente, não vou esperar essa estabilidade chegar para fazer o que quero, até lá haverá uma construção em busca dos objetivos, mas o foco será o financeiro. Não tenho talento suficiente para jogar tudo pro alto e viver de artes, se tivesse o faria sem pestanejar. Como não tenho, faço aquilo que me é oportuno e o é agora, estudar na faculdade, me graduar. De forma alguma desejo parar de estudar, aprender é uma das atividades mais gratificantes pro ser humano, fica atrás obviamente de ensinar (leia-se orientar ou ensinar-aprender em oposição a aprender-ensinar). Escrever é uma coisa que me salta a vista, estaria satisfeito em viver de escrever ou dançar.

O filme inspira aqueles que se encontram desanimados e que não encontram poesia em suas vidas. A arte, penso eu, faz parte de nós e como tal deve ser vivida, todos temos um pouco de artistas dentro de nós, basta procurar. Assim como no filme, seria uma grande dificuldade para mim ser dançarino, mas tentarei sem abandonar os estudos, assim como acredito que Neil faria se não estivesse morto. Modestamente, acredito que todos deveríamos fazer algo semelhante, claro, se tivermos condições.

Infelizmente nesse país há pessoas que não conseguem tempo nem para respirar, têm que trabalhar o dia inteiro para sustentar-se. Para elas, digo que trabalhem, mas que continuem procurando a sua arte, pois com certo esforço ela valerá muito mais que seu trabalho, tanto financeiramente quanto pessoalmente.

Como finalização peço que os leitores parem o momento periodicamente para avaliar o que fazem de suas vidas, se é o que deseja e se podem fazer melhor. Desistir nem sempre é uma boa opção, mas saber que quando terminar a atual atividade fará algo diferente já vale muito. Se aventurem, mas com sabedoria.

2 comentários:

Rafaela Melo disse...

Não assiti ao filme. E na realidade não me lembro nem o porquê!!! Diversas pessoas já me diseram que é maravilhoso. Tenho que anotar, mentalmente ou não que devo assist-i-lo. Só espero que dessa vez eu realmente lembre.
E espero também que as pessoas realmente aventurem-se, a aventura muitas vezes é o que nosdá animo para continuar vivendo a párte sacrificante de nossas vidas...
Obrigada Diego, por me proporcionar a aventura de escrever, mesmo que eu não a tenha seguido com tanta freqência!!!

Gabys R.F disse...

Meu querido, só quero deixar registrado que ADOREI o blog...

Ele é criativo, clean, moderno, com assuntos e opiniões que nos levam a refletir. Deliciar-se com o Papo de Butequim é um lazer inestimável!

PS - Diego, como já havia dito pra você, quando eu precisar de um jornalista criativo e crítico, te chamo na lata.

bjs e sucesso!

www.desmatamentozero.ig.com.br